Uma análise do filme Nós, de Jordan Peele
Quanto mais uma luz incide sobre nós, maior a sombra que dela deriva. O processo de autoconhecimento é indissociável de estar cada vez mais em contato com a parte de nós que nos faz sermos quem somos, mas que até então estava longe da nossa consciência.
As marcas que trazemos de nossa história individual e coletiva produzem modos de ser, estar, sentir e perceber o mundo. E produzem também modos de adoecer, de impedir a potência vital que nos habita, de reduzir as possibilidades de conexão com o outro e com o mundo.
No território do amor, para dar um exemplo, a sombra seria aquilo que diminui a potência do encontro amoroso seja pelo medo do abandono, o medo da entrega, o medo da repetição de histórias familiares. Medo é um afeto por meio do qual a sombra opera. Você tem medo de quê?
A cena que mais gosto no filme “Nós” de Jordan Peele, um tratado cinematográfico sobre a sombra, é a seguinte: o filho do casal protagonista, ao perceber que sua sombra pretendia explodir o carro em que sua família estava, sai do carro e começa a estalar os dedos.
Ele havia ensinado sua sombra a estalar os dedos de forma ritmada anteriormente. Retoma a conexão com a sombra pelo ritmo e vai andando de costas enquanto estala os dedos. A sombra o imita e anda de costas até queimar numa fogueira enorme que havia por detrás dela. O menino salva a si e à família por ter criado uma maneira de se conectar com a sombra e fazê-la seguir suas direções.
Encontre sua maneira de se conectar e de conviver com sua sombra. Saiba fazê-lo. É uma questão de vida ou morte. De saúde ou adoecimento.
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Imagem: Divulgação – Us/Nós, filme de Jordan Peele