A luta antirracista é uma luta pela descolonização
A instauração do sistema colonial nos séculos XV e XVI não pôde se dar senão por meio da violência. Foi através de variadas e sistemáticas práticas de violência contra africanos e indígenas que as colônias se estabeleceram no continente americano.
Por meio da exploração do trabalho de africanos em condição escrava foi possível a acumulação de capital que serviu de base para o surgimento do capitalismo. O modo de produção capitalista é o “filho mimado” do colonialismo e do racismo por ele engendrado.
Ainda que a escravidão tenha sido abolida, a lógica colonial que a sustentava continua em vigor nas américas. O principal pressuposto do colonialismo foi estabelecer que humano é sinônimo de homem-branco-cis-heterossexual e tudo que escapa a isso se torna alvo de violência.
O Brasil foi erguido por meio da desumanização de pessoas negras e a retirada da humanidade de pessoas negras continua a cada operação policial, a cada injúria racial, a cada ida ao supermercado. A dignidade humana das pessoas negras é ininterruptamente violentada dentro do sistema colonial ainda em vigor.
O racismo ainda existe porque é ele que sustenta o funcionamento do mundo como está. A esse respeito, Fanon diz que a polícia é o porta-voz do regime colonial, o intermediário entre aqueles que detêm o poder e os que não. Cabe a polícia “levar violência para as casas e para os cérebros” das pessoas negras com o fim de mantê-las reféns à ordem vigente que as oprime e, simultaneamente, faz enriquecer a outros.
A luta antirracista é uma luta pela descolonização das instituições e das mentes. Se o objetivo da descolonização é mudar a ordem do mundo, alguma desordem é instaurada. E é importante que essa luta seja tomada nas mãos também pelos herdeiros do colonialismo, ou seja, pelas pessoas brancas.
Não se trata aqui de lugar de fala, mas de lugar de corpo. É sobre colocar o corpo pra jogo no enfrentamento à desumanização do outro. O racismo não é um problema de pessoas negras, inclusive ele foi criado por pessoas brancas e cabe a elas tomarem sua parte na resolução dessa herança. Palavras de ordem não mudam a realidade, ações coletivas sim.
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