Quais os efeitos de viver numa distopia?

Como viver numa distopia

O mundo está ao contrário e a gente reparou

Uma das definições de distopia no dicionário é “lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação”. Outra definição, mais sucinta, é “lugar ruim”.

A sensação de habitar uma distopia, tal como nos livros de George Orwell ou Octavia Butler, tem estado agora presente em nós de forma mais intensa do que possa ter estado antes. As notícias diárias, por vezes, são tão da ordem do absurdo que nos perguntamos atônitos: isso é real? Isso está acontecendo mesmo?

Não seria um pesadelo de uma noite mal dormida? E nos beliscamos para ver se estamos sonhando. Por falar em sonhos, estes estão muito vívidos e repletos de elementos que compõem a dureza do momento em que vivemos. A pergunta “isso aconteceu ou eu sonhei?” aparece em nós como efeito das imagens tão reais dos sonhos e tão inacreditáveis da realidade.

Mergulhados na virtualidade, por onde agora vemos o mundo, as pessoas e a nós mesmos – virtualidade essa que é fluxo contínuo de imagens em frames variados – sentimos uma leve tontura e perdemos pouco a pouco a distinção entre o real e o virtual. E não, eles não são a mesma coisa.

Diante da suspensão do futuro ou do seu adiamento, nos sentimos presos a um presente interminável que borra os dias e as horas. Que dia é hoje? Que horas são? Aos poucos essas perguntas passam a não mais fazer sentido. Outra relação com o tempo é instaurada. Os dias não têm mais 24 horas.

Como enfrentar uma distopia?

Enquanto sentimos nos pés as rachaduras do mundo em desmoronamento, manter-se conectado com aquilo que nos dá chão e direção, com o que enche nosso peito de sentido, é uma pista importante de preservação da saúde mental num cenário distópico.

O que te sustenta? O que te alimenta? O que você tem como direção, como desejo de futuro? O que reforça em você o sentido e a beleza de estar vivo? Responda a si mesmo essas perguntas. Não as esqueça. E se concentre nas respostas, porque elas podem te guiar na criação de saída.

Leia também:

E se eu fosse a Beyoncé? Nota sobre a clínico-política do impossível

Pandemia e neurotização da vida: como será o amanhã?

Foto de Naveen Annam no Pexels